sexta-feira, 19 de março de 2010

GUERRA AO TERROR, de Kathryn Bigelow



"O calor da batalha é freqüentemente um vício potente e letal, pois a guerra é uma droga."


Guerra ao Terror (The Hurt Locker, 2008) é uma experiência cinematográfica de tirar o fôlego. Logo no início somos surpreendidos por uma situação de risco mortal: o perigo iminente de explosão de uma bomba terrorista abandonada em meio a uma rua de Bagdá. A fotografia de Barry Ackroyd alcançada sobre cores quentes realça muito bem a geografia local e isso é uma grande estratégia, basta lembrar do diálogo de que aquele país necessita de um empreendimento de gramas. A câmera na mão é outra brilhante idéia, capaz de pontuar ação, pânico, stress e suspense. E a quase ausência de trilha sonora só vem a reforçar sua proposição: música é útil à catarse, não a este filme.

Uma vez identificados, superficialmente, os aspectos estéticos, é tempo de refletir a ação dos personagens e, não o contrário. Sim, porque a "guerra é uma droga" e nela não é necessário pensar. É preciso coragem para sentir e agir, por isso o menor dos entendimentos é preciso.

O protagonista James, que substitui o desarmador de bomba Thompson, expõe essa questão cartesiana. Ele cumpre bem a sua função porque não tem nada a perder e isso significa um entendimento reduzido a respeito de sua condição naquela guerra. Isto é, faltar-lhe-ia filosofia, mas para quê filosofia (no fim, um outro meio para catarse) quando há diante de si uma guerra? Entretanto, isso não quer dizer que James não necessite de catarse. Ele precisa porque é humano e encontra isso através do rock, dos filmes piratas que adquire junto a camelôs iraquianos no alojamento (será essa - ou apenas essa - a importância de um filme?), do álcool e das brincadeiras violentas entre os colegas recrutas.

E não pára por aí. O roteiro de Mark Boal constrói um personagem inovador dentro do gênero. Em casa, James faz nada mais que filosofar (pensar) e descobre não sentir mais amor por nenhuma das convenções "normais" criadas pelos humanos - o casamento, a esposa, o filho, a família. Ele descobre que ama a guerra, uma "convenção anormal". Lá, ele não precisa manter um casamento de aparências, não precisa sequer pensar, pois é pago para agir (sentir). Se não teme a guerra porque a ama, sabe que pode ser mais útil lá. E nesse instante o filme imortaliza-se, porque James é inconstante, repleto de dúvidas: a mímeses do homem contemporâneo.

Dependendo do olhar, a decisão de James pode transparecer certa misantropia, mas a verdade é que não há palavra (ou meios) que designe (expliquem) sua atitude, ele agiu assim e pronto. Afinal, "a guerra é uma droga"... A guerra é catártica para ele, se não é para nós, que somos "normais", não o será o filme de Bigelow também. E assim sobe o letreiro, com uma das mais belas ironias do cinema - o rock catártico de James.

Kathryn Bigelow presenteia-nos com uma obra-prima, um filme de guerra digno de nosso tempo e de ocupar o panteão dos grandes filmes do gênero. Bigelow dirige com mão forte a câmera trêmula, e arranca performances de seus atores tão intensas que tornam inesquecível este Guerra ao Terror.

Baixar Trilha Sonora de Guerra ao Terror:
http://www.picktorrent.com/download/b7/4226613/marco-beltrami-&-buck-sanders---the-hurt-locker-%5Bost%5D(2009)%5Bsoun/

Baixar Roteiro de Guerra ao Terror:
http://www.sendspace.com/file/25waez

7 comentários:

  1. Assistir "Guerra ao Terror" é uma experiência cansativa; o filme nos enreda de tal forma que ao fim dele, estamos cansados, por causa da tensão. O que é bom. Muito bom. Um abraço!

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  2. Ainda não pude conferir! mas, seu texto salientou que preciso mesmo, parabéns pelo blog!

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  3. Cristiano:
    É muito bom saber que o texto é convincente! Desejo-te uma boa sessão! Depois volte e comente. Um abraço.

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  4. 3 Parágrafos:
    Concordo plenamente. Como diria Spinoza, "o que é belo é raro e difícil".
    É uma experiência cinematográfica, como escrevi, de tirar, literalmente, o folêgo, ao mesmo tempo que é também uma experiência inesquecível.
    Um abraço.

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  5. "Guerra ao Terror" foi uma grande surpresa. Filme emocionalmente devastador e preciso. Um trabalho exemplar de Kathryn Bigelow, toda a sutileza - a cena em que James, já nos EUA, está no supermercado escolhendo o cereal para alimentar seu filho pequeno é de um poder crítico sensacional - e o trabalho de logística são inseridos com perfeição.

    Grande filme! A Academia vem acertando nos últimos anos...


    abs!

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  6. Elton:
    Concordo que "Guerra ao Terror" seja um grande filme e, inclusive, que Kathryn Bigelow seja uma grande diretora. Mas não que a Academia venha acertando!
    Acho perfeitamente compreensível que o Oscar de direção tenha sido dado a Bigelow, mas não que "Guerra ao Terror" seja considerado o melhor filme daqueles 10. Não! Eu preferiria "Bastardos Inglórios". Há tempos que o cinema não via um argumento como o dele!
    Ressalto, ainda, que, para mim, o melhor filme do ano nem mesmo recebeu alguma indicação pela Academia...
    Um abraço.

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  7. Opa!
    Cassio, entre aqueles 10, a minha escolha também seria o filme do Tarantino, seguido por "Guerra ao Terror".

    Eu digo que a Academia vem acertando nos últimos anos com os vencedores na categoria principal. Ao menos, os 3 últimos vencedores foram de altíssimo nível. A obra-prima dos Coen, "Quem Quer Ser um Milionário, que apesar de alguns excessos, acho uma ótima produção e "Guerra ao Terror". São filmes realmente memoráveis e que a Academia só faz bem ao currículo a inclusão destes no histórico de laureados.

    mas reforço: em todos os anos, tinham filmes melhores a ganharem, mas, ainda assim, não reclamo da premiação destes. Talvez do filme de Danny Boyle, mas enfim... isso é conversa pra outro post =)

    flw!

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