terça-feira, 31 de agosto de 2010

A ORIGEM, de Christopher Nolan



Capítulo 2 – A Origem e o treinamento das paixões

Não reside nas cenas de ação, a referência máxima de Matrix (The Matrix, 1999) para A Origem (Inception, 2009). É nas ilusões. E é, precisamente, através das paixões que Christopher Nolan (diretor e roteirista de A Origem) reverencia Matrix.

Tentem relembrar quando, em Matrix, Neo, arrastado pela multidão, distrai-se por um momento e cai numa armadilha perceptiva disposta pelo programa de treinamento (entenda, uma ilusão controlada por Morpheus): nesse universo cinzento, surge uma bela garota loura num vestido vermelho sensual. Morpheus chama-o à ordem: “Está me escutando, Neo, ou está olhando para aquela mulher de vermelho?” “Eu estava...” Neo começa a se justificar quando a bela garota de vermelho transforma-se de uma hora para outra em “agente Smith”, que lhe aponta uma arma na cabeça e vai atirar.

Eames, o falsificador – ele leu o Tratado das Paixões ou assistiu Matrix?


Agora lembrem de A Origem. No que se transforma Eames, o falsificador, para distrair a percepção de Robert Fischer, naquela segunda camada de sonho compartilhado? Com aquela falsificação, consegue ele alcançar seu objetivo – não permitir que Fischer descubra que está dormindo? Não pôde ele muito mais que isso? O número de seis dígitos do telefone, a carteira de U$500...

René Descartes, em uma carta à Elisabeth escrita há 365 anos, traduz o significado daquelas cenas:

Todas as nossas paixões ilustram para nós os bens à procura dos quais elas nos incitam muito maiores do que são de fato... o que devemos zelosamente observar a fim de que, quando formos perturbados por alguma paixão, não suspendamos nosso juízo até que ela seja apaziguada.

Nossas paixões deformam a realidade. Descartes pôs Elisabeth de sobreaviso contra a deformação que as paixões impõem à realidade. A Origem e Matrix repousam na idéia de que essas deformações estão na raiz de todas as ilusões de que somos vítimas.

Eames (no fundo) – Acredite: Ele pode está lendo Descartes!


Os filmes, mais ainda do que o livro Tratado das Paixões de Descartes, têm a propriedade de nos ensinar a controlar nossas paixões, vivendo-as por intermédio de seus atores. Destarte, A Origem funciona como um treinamento das paixões.

Baixar Trilha Sonora de A Origem:
http://hotfile.com/dl/58453638/5b24299/DiSom.rar.html

8 comentários:

  1. Olha que texto interessante. Me mostra um lado de "A Origem" que me tinha passado completamente despercebido.

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  2. Olá, Cássio!

    muito legal a sua ideia de dividir sua análise filosófica em capítulos =), acho que assim é possível ingerir todas as informações com mais facilidade e aproveitar os detalhamentos e talz. E que filmaço! Não tem nem o que discutir, não se trata de um roteiro inovador, nem nada, mas o argumento proposto é de uma complexidade incrível e compreensível.

    Já estou curioso pelo seu texto para "Mary & Max". Vai ter? =)


    ps. cara, reestruturei o blog, mas perdi todos os meus blogs companheiros que tinha no antigo. Vou atualizando lá conforme vou me lembrando do pessoa. O DC já está de volta o/


    abraço!

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  3. Kamila:
    Muito obrigado pelo elogio! Fico muito contente em ouvir isso, ainda mais vindo de uma cinéfila voraz (ou de um cinéfila por natureza, rsrsrs)! E quanto ao argumento do 1º ensaio, também concordas que é Clube da Luta a referência máxima de A Origem?
    Um grande abraço!
    =)

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  4. Elton:
    Olá, meu amigo!
    A idéia de dividir o ensaio de A Origem em capítulos surgiu da complexidade de sua trama. Não subtenda, contudo, que acredite ser A Origem o único filme multifacetado da Terra. Mas acontece que preferi concebê-lo assim. E que bom é descobrir que tu também aprovaste!

    Cara, eu adorei Mary & Max! Também não vejo a hora de transpor para o papel minhas idéias acerca deste que, na minha opinião, é, no mínimo, a melhor animação do ano! Portanto, pode aguardar!
    ;)

    Brother, parabéns pelo novo blog! E que bom poder estar lá! rsrsrsrs

    Um grande abraço.
    =D

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  5. vou ler agora o capítulo 1, mas o 2 está fenomenal em sua especificidade. Você enriqueceu a digestão do filme para o teu leitor de forma bem original. Abs

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  6. Reinaldo:
    Muito obrigado. Tu não sabes o quanto fico contente em receber este tipo de elogio de um grande profissional como és tu. Valeu mesmo!
    ;)
    Abs

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  7. Christopher Nolan é muito inovador. Ele tem tudo para ser o grande nome dessa próx. geração de diretores. A Origem é um filmaço!

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  8. Película Criativa:
    Estás certíssimo(a)!
    E, no caso de Nolan, só temos a ganhar. Afinal, o cara tem formação clássica: ele é graduado em Literatura Inglesa. Não é à toa que seu fabuloso roteiro é um "inception" de referências.
    Ah...seja bem-vindo(a)!
    Grande abraço.
    ;)

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