terça-feira, 20 de abril de 2010

O FANTÁSTICO SR. RAPOSO, de Wes Anderson



“Boggis, Bunce e Bean
Um gordo,
Um baixo,
Um palito,
Esses grandes ladrões
Com diversas feições
Deixam qualquer um aflito.”



Viver segundo o seu próprio instinto ou viver de acordo com as convenções vigentes? Eis a reflexão proposta por esta fantástica realização de Wes Anderson.

O Fantástico Sr. Raposo (Fantastic Mr. Fox, 2009) é competente adaptação para o cinema de uma obra literária (de Roald Dahl, autor de A Fantástica Fábrica de Chocolate). Wes Anderson transpôs sua essência – poesia, filosofia e música – e acrescentou-lhe sua visão, incorporando fantásticas referências do cinema à narração.

A Noite Americana (La Nuit Américaine, 1973), obra-prima do cineasta francês François Truffaut, é expoente máximo das referências para a construção do fantástico roteiro (de Wes Anderson e Noah Baumbach). A trilha do filme, além das belas composições de Alexandre Desplat (e sua terceira indicação ao Oscar), também rememora duas nostálgicas composições de Georges Delerue para A Noite Americana: “Une Petit Ile” e “Le Grand Choral”.

Quando em sua obra-prima Truffaut questiona se “o Cinema é mais importante que a Vida?”, não espera que o público responda, prontamente, sim ou não (e escolha um ou outro), mas que reflita a relação de interdependência entre as duas coisas e, finalmente, conclua: “A Vida com o Cinema pode ser melhor ainda!”. E é exatamente o que Wes Anderson pretende alcançar com o desenvolvimento do roteiro deste Fantástico Sr. Raposo.

Ao descobrir que será pai e estando em perigo, o Sr. Raposo, astuto ladrão de galinhas, promete que, se sobreviver, arranjará um emprego decente. E assim o faz... Acontece que, ao negar radicalmente seu próprio instinto (ato da vontade) e aceitar um emprego condizente ao seu conhecimento (ato do entendimento), e não perseverar, o Sr. Raposo constrói diante de si uma vida absolutamente autárquica – uma vida que se assemelha à morte. Explico: é uma existência bem-comportada, confortável, mas que supõe um isolamento total, a recusa de toda alteridade, de todo risco, de toda novidade.

Canis Lupus simboliza uma liberdade infinita e, portanto, impossível para o plano real. No ato final, o Sr. Raposo, ao encontrá-lo (distante e quase sem poder enxergá-lo), admira e elogia sua criatura. E só! O Sr. Raposo segue, literalmente, estrada à frente em linha reta (ou persevera, segundo o discurso de Descartes), com seu filho Ash e seu sobrinho Kristofferson resgatados. Como se verá logo mais, ele descobre que negar as convenções não é possível (ele mantém seu emprego de redator para a coluna da Gazeta), e tampouco negar radicalmente seus instintos (vide última cena), que seria o mesmo que negar a própria vida. O Sr. Raposo, enfim, aprende a perseverar...

Fantastique! Um filme para ser apreciado por todos aqueles que amam a Vida e a Arte.

Baixar Trilha Sonora de O Fantástico Sr. Raposo:
Álbum Adicional (Alexandre Desplat)

Baixar Roteiro de O Fantástico Sr. Raposo:
http://www.sendspace.com/file/8ow7v8

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