Capítulo 3 – A Origem e o cinema enquanto sonho
É o sonho a matéria a partir da qual se constrói o roteiro de A Origem (Inception, 2010). E a principal questão filosófica por ele proposta é a seguinte: Como diferenciar o sonho da realidade?
A concepção de Nietzsche (1844-1900) acerca da natureza dos sonhos é a que melhor traduz A Origem. Muito antes de Freud publicar sua Interpretação dos Sonhos (1900), o pensador alemão já desconfiava que as vivências oníricas tinham seu fundamento em desejos e impulsos insatisfeitos:
“Nossos sonhos podem ter o sentido de compensar a falta de nutrição [dos desejos] durante o dia” (Aurora [1881], §119).
Para Nietzsche a força em nós que gera as imagens oníricas é a mesma que faz nascer as metáforas e a arte em geral. Dito isto de forma mais simples: Precisamos dos sonhos e da arte para não sucumbir às verdades absolutas que nos cercam.
Enquanto sonhamos (ou assistimos A Origem) estamos momentaneamente livres da lei da causalidade que cerceia nossos atos, enquanto sonhamos estamos mais próximos daquilo que constitui o mais próprio da nossa existência: o devir livre das interpretações na forma de um acaso cruel e multicolorido.
E se são as conexões de causa e efeito que nos dão segurança acerca do real, então toda vez que os elos dessa cadeia são rompidos somos como que levados a nos sentir em um sonho. Nesses momentos o princípio da causalidade parece ser apenas uma invenção, uma aparência de ordem no caos.
“Nossos sonhos podem ter o sentido de compensar a falta de nutrição [dos desejos] durante o dia” (Aurora [1881], §119).
Para Nietzsche a força em nós que gera as imagens oníricas é a mesma que faz nascer as metáforas e a arte em geral. Dito isto de forma mais simples: Precisamos dos sonhos e da arte para não sucumbir às verdades absolutas que nos cercam.
Enquanto sonhamos (ou assistimos A Origem) estamos momentaneamente livres da lei da causalidade que cerceia nossos atos, enquanto sonhamos estamos mais próximos daquilo que constitui o mais próprio da nossa existência: o devir livre das interpretações na forma de um acaso cruel e multicolorido.
E se são as conexões de causa e efeito que nos dão segurança acerca do real, então toda vez que os elos dessa cadeia são rompidos somos como que levados a nos sentir em um sonho. Nesses momentos o princípio da causalidade parece ser apenas uma invenção, uma aparência de ordem no caos.
O totem de Cobb: Expectativa na platéia – Ordem ou Desordem no caos?
Quando, nos últimos quadros, A Origem faz-nos torcer freneticamente pela desordem, ou seja, pela queda do pião, do totem de Cobb que está a girar, o que traduziria a estadia da personagem no plano real, e, no entanto, priva-nos deste reconhecimento, criando aquilo que, cinematograficamente, se convencionou denominar, desde Blade Runner – O Caçador de Andróides (Blade Runner, 1982), filme de final em aberto, o faz por um motivo também caro a Nietzsche: colocar em dúvida a fronteira absoluta que separa o real do sonho.
Segundo o filósofo, a diferença entre sonho e realidade é apenas de intensidade. Será preciso aprender a viver tal como se sonha:
“A gente não sonha nada ou sonha de um jeito interessante. Será preciso aprender a ficar acordado da mesma maneira: ou nada ou de um jeito interessante” (Gaia Ciência [1882], §232).
Destarte, A Origem apresenta-se, primeiramente, como um cinema enquanto sonho, para não nos deixar sucumbir, e, finalmente, como um convite à vida, que deve ser aprendida como a um sonho. E Non, Je Ne Regrette Rien que ecoa na voz imortal de Edith Piaf (1915-1963) ao final do letreiro, muito bem resume e respalda, metalinguisticamente, o significado de tudo isso.
Segundo o filósofo, a diferença entre sonho e realidade é apenas de intensidade. Será preciso aprender a viver tal como se sonha:
“A gente não sonha nada ou sonha de um jeito interessante. Será preciso aprender a ficar acordado da mesma maneira: ou nada ou de um jeito interessante” (Gaia Ciência [1882], §232).
Destarte, A Origem apresenta-se, primeiramente, como um cinema enquanto sonho, para não nos deixar sucumbir, e, finalmente, como um convite à vida, que deve ser aprendida como a um sonho. E Non, Je Ne Regrette Rien que ecoa na voz imortal de Edith Piaf (1915-1963) ao final do letreiro, muito bem resume e respalda, metalinguisticamente, o significado de tudo isso.
Baixar Trilha Sonora de A Origem:
http://hotfile.com/dl/58453638/5b24299/DiSom.rar.html
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AEE!
ResponderExcluirMuito bom ver que o DC voltou à ativa depois de uma pausa de quase 3 meses (!)
Que houve que sumistes, rapaz?
Ainda mais no meio da saga "A Origem" rs.
Brincadeira, mas muito bom vê-lo de volta.
Muito interessante suas colocações em propor casamento com o filme e citações de filósofos. Não apenas "A Origem", mas lendo o seu texto foi impossível não remeter ao onírico mundo de David Lynch, diretor soberbo que transita entre o sonho e a realidade - e, por vezes, mescla esses dois mundos. O sonho mais intenso do que o sonho. Questionável... mas claro que abre as nossas asas para algo muito além do nosso alcance.
E quanto ao totem, adoro essa ambiguidade e o final aberto do filme. Várias teorias surgiram e talz, mas eu gosto de saber que há possibilidades para as 2 opções - 2 até onde eu sei =)
grande abraço! o/
e não suma.
Só Nietzsche mesmo para esmiuçar A Origem.
ResponderExcluirMuito bom os três capítulos. Achei interessante a forma como analisa o filme a cada filósofo.
abraços
Parabéns por mais um capítulo do ensaio que agrega valor ao filme de Nolan.Interessante a relação proposta entre o filme (a obra cinematográfica em si), o sentido que Nietzsche dá ao sonho e o conceito lapidado em A origem. É mais fácil a visualiação dessa bifurcação ao ler este teu ensaio. Parabéns! Mais uma vez!
ResponderExcluirGrande abraço!
Elton Telles:
ResponderExcluirMeu brother, a difícil tarefa de conciliar faculdade e o que fazer no tempo livre: assistir um filme, ler um livro ou escrever para o blog.
Muito grato por tuas nobres colocações. De fato, Lynch é um outro grande cineasta que adora questionar a fronteira absoluta que separa o real do sonho. Você tem toda a razão. Aliás, o seu Império dos Sonhos é, talvez, o filme que mais requereu de mim interpretação. Mas isso pode ficar para outra hora... rsrsrsrs
Acredite: Sempre tento não sumir!
Grande abraço.
;)
Amanda Aouad:
ResponderExcluirConcordo contigo, apesar de ser suspeito para falar sempre que se tratar de algo relacionado a Nietzsche. rsrsrsrsrs
Muito obrigado, fico muito contente em saber disso.
Abraço.
:)
E não suma! [2] rsrsrsrsrs
Reinaldo Glioche:
ResponderExcluirGrande Reinaldo, fico muito grato pelos teus elogios. Eles também agregam valor ao meu ensaio! rsrsrsrsrs
vlw msm
Grande abraço.
;)