quarta-feira, 24 de março de 2010

BASTARDOS INGLÓRIOS, de Quentin Tarantino



"Era uma vez... Na França ocupada."


Se era incerta a consagração de Quentin Tarantino, ainda mesmo depois de Pulp Fiction – Tempos de Violência, depois deste Bastardos Inglórios (Inglourious Basterds, 2009) não o deve mais ser. Primeiro, porque Tarantino parece estar na sua melhor forma, com um senso de posicionamento da câmera e timing apuradíssimos, dignos de um grande mestre. Segundo, porque este parece fadado a ser, eternamente, a sua obra-prima, haja vista que Tarantino dificilmente conseguirá superar a poesia da violência que se vê na tela.

O grande mérito estético de Bastardos Inglórios deve-se, portanto, à direção impecável, mas também ao roteiro (do próprio Tarantino) – com uma poesia, uma filosofia e uma música que raras vezes vi no cinema. A belíssima direção de arte, a mágica fotografia e a nostálgica trilha sonora constroem um universo palpável aos nossos olhos, ouvidos e tato. Por sua vez, a personificação do ator Christopher Waltz no coronel nazista Hans Landa é assustadora, uma primorosa performance poliglota. Seria desnecessário dizer que ele completa a obra, então digo que ele a humaniza. Pronto, a catarse está armada...

Bastardos Inglórios fala de muitas coisas, mas não responde a nada. A glória ou a inglória a que remete seu título é certamente o tema central desta estória. Ou seria história?

Ao reescrever a história, ou aquilo a que chamamos de a verdade da história, Tarantino questiona os dogmas deste mundo. E, ao fazê-lo através de uma câmera, dá novos ares ao cinema.

A reinvenção/narração dos fatos que culminaram, em grande parte, no fim da II Guerra Mundial, contando uma outra verdade, parodia a busca pelo sentido da vida. Explico: no derradeiro fim da película descobrir-se-á que a história perpetrada à posteridade não será fidedigna, pois basear-se-á na suposta versão tramada pelo coronel Hans Landa ou, mais provavelmente, apenas noutra versão, acertada pelos vencedores da guerra e materializada na figura do tenente americano judeu Aldo Raine (o ótimo Brad Pitt). Bastante sugestivo é seu último diálogo, em close para a câmera: “Sabe de uma coisa Utivich? Acho que esta é minha obra-prima.”. Quando, de repente, sobe o letreiro. É como se o tenente Aldo Raine, detentor de um entendimento maior daquilo que aconteceu naquela guerra, se divertisse brincando de deus, negando à raça humana a verdade e sendo igualmente vil àquele que é, na verdade, "sua imagem e semelhança" (a suástica nazista marcada na testa do coronel Hans Landa remete ao gesto de vingança de deus a Caim). E como sabemos que, para todos nós mortais, o letreiro sempre sobe antes de encontrarmos qualquer resposta, nós espectadores, descobrimos sermos todos bastardos também, carentes da verdade, e inglórios, pois, inevitavelmente, a morte será o nosso fim.

É um filme para ser apreciado com todos os seus sentidos, atentando para várias outras interpretações subliminares, pois, felizmente, este Bastardos Inglórios não morre junto com o letreiro. Sui generis, uma obra-prima...

Baixar Trilha Sonora de Bastardos Inglórios:
http://www.mediafire.com/?ygzmzvzzydo

Baixar Roteiro de Bastardos Inglórios:
http://www.sendspace.com/file/wexbvk

14 comentários:

  1. A maior obra de Tarantino, provavelmente insuperável, a não ser que ele tire outro coelho de algum lugar escondido em sua já fertil imaginação. E nem é só pela estética, pelo prazer em ver um filme bem feito, não: a maneira como ele nos "leva" para onde quer, nos conduz a sentimentos variados durante o filme todo é algo admirável. E o final, arrasador e subversivo, deixa qualquer um boquiaberto.

    Enfim, é filme pra se ver sempre.
    Eu mesmo já vi cinco vezes. E contando.

    Um abraço!

    ResponderExcluir
  2. E fiquei muito feliz com seus ocmentários no 3P, de verdade! Fico contente com seus elogios, me deu ânimo em continuar escrevendo. ^^

    ResponderExcluir
  3. Parabéns pelo blog. Eu gosto muito de "Bastardos Inglórios". Considero esta a melhor obra escrita e dirigida pelo Quentin Tarantino. Considero um filme que reflete a maturidade artística de seu diretor. Acho legal que o longa tem uma aura meio clássica, porém moderna! E gosto da ironia, do senso de humor do roteiro.

    ResponderExcluir
  4. 3 Parágrafos:
    Sinto-me igualmente entusiasmado com seus comentários. Um abraço!

    Cinéfila por Natureza:
    Obrigado pela visita e, ainda, por postar seu comentário. Volte sempre!

    ResponderExcluir
  5. Muito bom o texto mesmo! De cara, seu blog me cativou.

    Bastardos Iglorios provou que Tarantino pode ser ainda melhor, mais visceral, perfeitinho!

    Te sigo e linkei ao meu blog! abraço

    ResponderExcluir
  6. Cristiano:
    Obrigado pelos elogios.Fico contente que tenhas gostado do blog também. Seja bem-vindo! E fique à vontade para comentar sempre. Um abraço.

    ResponderExcluir
  7. Adorei o blog, vou visitá-lo mais vezes! ;)

    Sobre "Bastardos Inglórios", é de tirar o chapéu o que Tarantino fez com este filme, parte técnica fenomenal e com um elenco onde cada ator consegue aproveitar muito bem seu tempo em tela.

    Beijos e parabéns pelo blog! ;)

    ResponderExcluir
  8. Mayara:
    Obrigado pelo elogio! Sempre adorei visitar o seu também! Seja-bem vinda e volte sempre! Um abraço.

    ResponderExcluir
  9. “Sabe de uma coisa Utivich? Acho que esta é minha obra-prima.”

    Esse é Tarantino falando pra Hollywood.

    ResponderExcluir
  10. Bob:

    Parabéns! A frase possibilita esta outra interpretação. Certamente que, enquanto escrevia o roteiro e concebeu-a, o orgulho do diretor falou mais alto e, presumo, jamais pensou em não usá-la.

    Seja bem-vindo!
    Abraço.

    ResponderExcluir
  11. Sim! Bastardos Inglórios é a obra master de Tarantino!
    O filme é fenomenal. Fotografia e roteiro maravilhosos. Os diálogos são gostosos de ouvir. As cenas são lindas e a iluminação é esplêndida. XD
    Tarantino faz algo com esse filme que os americanos devem aprender que é bom para a atmosfera da história: Diálogos que seguem a linha do idioma dos personagens. É horrível ver um filme sobre homens das cavernas como 10000 AC, em que os personagens falam inglês!
    Tarantino foi subestimado com esse filme.
    Outra coisa: Brad está muito melhor nesse filme do que em Benjamim Button. Por mim, seria indicado... pelo menos EU votaria nele.

    ResponderExcluir
  12. Raisa:
    Grande Raisa, concordo com muito do que dissestes, exceto que Trantino tenha sido subestimado com este filme. Pelo contrário, ele recebeu elogios e prêmios que, algures, nem imaginava alcançar com a obra que ele próprio chamou de "western spaguetti".
    Também reconheço que, apesar de agradar-me muito mais o personagem "de ação" Aldo Raine ao circunspecto Benjamin Button, é este último o mais detalhadamente construído e humanizado por Brad Pitt, capaz de sustentar sozinho todo a sua história no seu longuíssimo filme. E só por isso, ele merece mais créditos que Aldo Raine...
    E, ah! Este detalhe (hilário!) de 10.000 a.C. pode ser depreendido como uma bela ironia ao próprio sistema cinematográfico americano. Aliás, Emmerich brinda-nos com muitas outras ironias neste filme, que não deve ser levado a sério!
    Grande abraço!
    ;)

    ResponderExcluir
  13. Seu texto está ótimo rapaz!

    Eu vibrei quando Tarantino usa esta metalinguagem para encerrar o filme "Sua obra prima".

    Supera Pulp, Kill Bill...é um primor da sétima arte onde ele prova que no cinema tudo é perfeitamente possível, inclusive colocar o Terceiro Reich num cinema com Hitler e explodí-lo! Rs

    Abs
    Rodrigo

    ResponderExcluir
  14. Rodrigo Mendes: Muito obrigado, rapaz! Eu também tive um orgasmo cinematográfico, naquela hora. Compreendeste tudo...vlw mais uma vez pelo feedback.
    ABS
    ;)

    ResponderExcluir

O DC agradece o seu comentário!