
“– Os mordedores não são tão maus, são os devoradores aqueles que não suporto.”
Onde Vivem Os Monstros (Where the Wild Things Are, 2009) é adaptação do livro Where the Wild Things Are de Maurice Sendak, publicado em 1963, e tem a primorosa direção de Spike Jonze, diretor dos festejados Adaptação (Adaptation, 2002) e Quero Ser Jonh Malkovich (Being John Malkovich, 1999).
Max (o promissor Max Records) é um garoto travesso mandado de castigo para seu quarto depois de desobedecer a mãe (a ótima Catherine Keener). Porém, a imaginação do menino está livre e o transporta para um reino desconhecido. Encantado, Max parte para a terra dos Monstros Selvagens, onde Max é o rei.
KW: – Obviamente você tem um lar, uma família?
Max: – Eu tinha uma por perto, mas...
KW: – Você comeu todos?
Max: – Não! Não, só mordi um deles, e só, e... ficaram loucos...
KW: – E...
Max: – Eu não gosto de milho congelado.
Algo digno de nota deste Onde Vivem Os Monstros, e de todos os trabalhos anteriores de Spike Jonze, é a empatia do diretor pelo seu herói-protagonista. Ele não só se identifica com o seu herói, como também o respeita dignamente. Mas, se por um lado Jonze retrata, explicitamente, os dramas existenciais de seus heróis como a guerra mais genuína que possa existir, por outro lado, implicitamente, ele escarnece desta guerra e de seu beligerante.
Esteticamente, chama atenção a câmera de Jonze que, até mais ou menos a metade do filme, apresenta muitos maneirismos que vão tornando-se rarefeitos à medida que o tempo passa. Estratégia genial! A câmera representa a subjetividade de Max que, antes de conhecer os Monstros Selvagens, sempre agia impulsivamente, e, depois de conviver com eles, aprende a refletir antes de agir.
KW: – Sinto muito! Por isso que você foi embora?
Max: – Eu acho que minha mãe é uma pessoa má.
KW: – É mesmo?
Max: – Eu não sei... não sei.
KW: – Bem, estou contente que tenha vindo. Não quero me apegar a alguém que não precisa de ninguém. Quero dizer, que morde todo mundo. Os mordedores não são tão maus, são os devoradores aqueles que não suporto.
Max: – Não tenho planos de comer ninguém.
Onde Vivem Os Montros é a perfeita representação do embate prático do Método de Descartes. Max sofre porque começa a ter de aprender a arte da conciliação do ato da vontade com o ato do entendimento. E, certamente, é esta a guerra mais cruel pela qual toda criança, em algum instante, há de empenhar-se.
O ato da vontade é a marca da infância. Podemos desejar tudo. O ato da vontade é infinito. O ato do entendimento é emblemático do adulto. Mas não podemos saber de tudo. O ato do entendimento é finito. Para Descartes, aprender a viver é descobrir como agir contrabalanceando estes dois atos.
Onde Vivem Os Monstros vai mais além, e diz que o ato do entendimento pode prevalecer sobre o ato da vontade, possibilitando aumentar a nossa potência. Como isso é possível? Quando “enfrentamos os nossos próprios monstros”, ou seja, quando transformamo-nos em espectadores do teatro que é a nossa própria vida. Dito de outra maneira, Onde Vivem Os Monstros faz-nos um convite: filosofe!
A história fantástica que rompe a linguagem lúcida da narração é artifício (no caso, cinematográfico) para simbolizar o filosofar de uma criança, onde o ato do entendimento, além de mais reduzido que o de um adulto, é arraigado de valores mitológicos e fantásticos. E aqui reside uma bela ironia metalingüística, porque Onde Vivem Os Monstros não é um filme para crianças, é um filme para adultos. Adultos que não mais acreditam em seres fantásticos! Mas por que, afinal, vão eles ao cinema para assistir a uma narração fantástica? Catarse! Adultos esforçam-se em fazer prevalecer o ato da vontade sobre o ato do entendimento quando as luzes apagam-se e a projeção inicia-se. O Cinema é magia!
Onde Vivem Os Monstros é mágico e, paradoxalmente, bastante real. E tudo isto é um convite: assista-o!
Baixar Trilha Sonora de Onde Vivem Os Monstros:
Álbum Original (Karen O And The Kids)
http://www.mediafire.com/?bttyinncbld
Álbum Adicional (Carter Burwell)
http://www.mediafire.com/?qgt4etzgjyw
Baixar Roteiro de Onde Vivem Os Monstros:
http://www.sendspace.com/file/97aw2n
Estou ansioso pra conferir este filme!
ResponderExcluirAinda não conferi este filme, que está sendo muito bem falado por todos. Espero poder conferir em breve!
ResponderExcluirCristiano:
ResponderExcluir"Onde Vivem Os Monstros" é para aqueles que apreciam um filme de camadas.
Boa Sessão!
Um abraço.
Kamila:
ResponderExcluirEspero que se divirta, tanto quanto eu quando assisti a este filme. A trilha sonora é outro detalhe mágico deste filme! São simplesmente fantásticas, tanto as canções de Karen O And The Kids quanto as composições de Carter Burwell.
Um abraço.
Tb não vi. De qualquer maneira o recorte feito por vc é dos mais entusiasmantes.
ResponderExcluirGrande abraço!
Reinaldo:
ResponderExcluirFico contente de ouvir isso, porque "Onde Vivem Os Monstros" merece ser visto! De qualquer forma, já te fiz o convite...
Um abraço.
Olá Cassio!
ResponderExcluirgostei muito do seu blog. Também add na lista de cineblogs do Pós Première.
Quanto ao filme, ainda não tive chances de assistir. Mas é sempre com entusiasmo que aguardo um trabalho de Spike Jonze, uma mente criativa entre os enlatados hollywoodianos =)
O trailer foi o melhor da última temporada e seu texto aguçou ainda mais a minha curiosidade. Aqui, só me resta esperar em DVD =/
abs!
Elton:
ResponderExcluirSeja bem vindo!
Fico contente que tenhas apreciado o DC.
Realmente, Spike Jonze é um dos raros cineastas americanos que assinam, independentemente, o seu trabalho, sempre com a sua identidade.
Também fico orgulhoso por aguçar a tua curiosidade para conferí-lo. E só posso esperar que o longa perpetue a emoção que sentistes com o trailer.
Um abraço.