terça-feira, 25 de maio de 2010

ONDE VIVEM OS MONSTROS, de Spike Jonze



“– Os mordedores não são tão maus, são os devoradores aqueles que não suporto.”


Onde Vivem Os Monstros (Where the Wild Things Are, 2009) é adaptação do livro Where the Wild Things Are de Maurice Sendak, publicado em 1963, e tem a primorosa direção de Spike Jonze, diretor dos festejados Adaptação (Adaptation, 2002) e Quero Ser Jonh Malkovich (Being John Malkovich, 1999).

Max (o promissor Max Records) é um garoto travesso mandado de castigo para seu quarto depois de desobedecer a mãe (a ótima Catherine Keener). Porém, a imaginação do menino está livre e o transporta para um reino desconhecido. Encantado, Max parte para a terra dos Monstros Selvagens, onde Max é o rei.

KW: – Obviamente você tem um lar, uma família?
Max: – Eu tinha uma por perto, mas...
KW: – Você comeu todos?
Max: – Não! Não, só mordi um deles, e só, e... ficaram loucos...
KW: – E...
Max: – Eu não gosto de milho congelado.

Algo digno de nota deste Onde Vivem Os Monstros, e de todos os trabalhos anteriores de Spike Jonze, é a empatia do diretor pelo seu herói-protagonista. Ele não só se identifica com o seu herói, como também o respeita dignamente. Mas, se por um lado Jonze retrata, explicitamente, os dramas existenciais de seus heróis como a guerra mais genuína que possa existir, por outro lado, implicitamente, ele escarnece desta guerra e de seu beligerante.

Esteticamente, chama atenção a câmera de Jonze que, até mais ou menos a metade do filme, apresenta muitos maneirismos que vão tornando-se rarefeitos à medida que o tempo passa. Estratégia genial! A câmera representa a subjetividade de Max que, antes de conhecer os Monstros Selvagens, sempre agia impulsivamente, e, depois de conviver com eles, aprende a refletir antes de agir.

KW: – Sinto muito! Por isso que você foi embora?
Max: – Eu acho que minha mãe é uma pessoa má.
KW: – É mesmo?
Max: – Eu não sei... não sei.
KW: – Bem, estou contente que tenha vindo. Não quero me apegar a alguém que não precisa de ninguém. Quero dizer, que morde todo mundo. Os mordedores não são tão maus, são os devoradores aqueles que não suporto.
Max: – Não tenho planos de comer ninguém.

Onde Vivem Os Montros é a perfeita representação do embate prático do Método de Descartes. Max sofre porque começa a ter de aprender a arte da conciliação do ato da vontade com o ato do entendimento. E, certamente, é esta a guerra mais cruel pela qual toda criança, em algum instante, há de empenhar-se.

O ato da vontade é a marca da infância. Podemos desejar tudo. O ato da vontade é infinito. O ato do entendimento é emblemático do adulto. Mas não podemos saber de tudo. O ato do entendimento é finito. Para Descartes, aprender a viver é descobrir como agir contrabalanceando estes dois atos.

Onde Vivem Os Monstros vai mais além, e diz que o ato do entendimento pode prevalecer sobre o ato da vontade, possibilitando aumentar a nossa potência. Como isso é possível? Quando “enfrentamos os nossos próprios monstros”, ou seja, quando transformamo-nos em espectadores do teatro que é a nossa própria vida. Dito de outra maneira, Onde Vivem Os Monstros faz-nos um convite: filosofe!

A história fantástica que rompe a linguagem lúcida da narração é artifício (no caso, cinematográfico) para simbolizar o filosofar de uma criança, onde o ato do entendimento, além de mais reduzido que o de um adulto, é arraigado de valores mitológicos e fantásticos. E aqui reside uma bela ironia metalingüística, porque Onde Vivem Os Monstros não é um filme para crianças, é um filme para adultos. Adultos que não mais acreditam em seres fantásticos! Mas por que, afinal, vão eles ao cinema para assistir a uma narração fantástica? Catarse! Adultos esforçam-se em fazer prevalecer o ato da vontade sobre o ato do entendimento quando as luzes apagam-se e a projeção inicia-se. O Cinema é magia!

Onde Vivem Os Monstros é mágico e, paradoxalmente, bastante real. E tudo isto é um convite: assista-o!

Baixar Trilha Sonora de Onde Vivem Os Monstros:
Álbum Original (Karen O And The Kids)

http://www.mediafire.com/?bttyinncbld

Álbum Adicional (Carter Burwell)
http://www.mediafire.com/?qgt4etzgjyw


Baixar Roteiro de Onde Vivem Os Monstros:
http://www.sendspace.com/file/97aw2n

8 comentários:

  1. Ainda não conferi este filme, que está sendo muito bem falado por todos. Espero poder conferir em breve!

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  2. Cristiano:
    "Onde Vivem Os Monstros" é para aqueles que apreciam um filme de camadas.
    Boa Sessão!
    Um abraço.

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  3. Kamila:
    Espero que se divirta, tanto quanto eu quando assisti a este filme. A trilha sonora é outro detalhe mágico deste filme! São simplesmente fantásticas, tanto as canções de Karen O And The Kids quanto as composições de Carter Burwell.
    Um abraço.

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  4. Tb não vi. De qualquer maneira o recorte feito por vc é dos mais entusiasmantes.

    Grande abraço!

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  5. Reinaldo:
    Fico contente de ouvir isso, porque "Onde Vivem Os Monstros" merece ser visto! De qualquer forma, já te fiz o convite...
    Um abraço.

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  6. Olá Cassio!
    gostei muito do seu blog. Também add na lista de cineblogs do Pós Première.

    Quanto ao filme, ainda não tive chances de assistir. Mas é sempre com entusiasmo que aguardo um trabalho de Spike Jonze, uma mente criativa entre os enlatados hollywoodianos =)
    O trailer foi o melhor da última temporada e seu texto aguçou ainda mais a minha curiosidade. Aqui, só me resta esperar em DVD =/


    abs!

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  7. Elton:
    Seja bem vindo!
    Fico contente que tenhas apreciado o DC.
    Realmente, Spike Jonze é um dos raros cineastas americanos que assinam, independentemente, o seu trabalho, sempre com a sua identidade.
    Também fico orgulhoso por aguçar a tua curiosidade para conferí-lo. E só posso esperar que o longa perpetue a emoção que sentistes com o trailer.
    Um abraço.

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O DC agradece o seu comentário!